domingo, 26 de abril de 2020

Plano de fuga

Estou desconfiada de que os meus gatos estão fartos de companhia 24/24 e que andam a planear uma fuga de casa, começando pelo apuramento das respetivas competências de caçadores. O Félix, mais gordinho, e, por isso, mais necessitado de proteína, tem-se dedicado a pequenos roedores. Já a Faísca, uma senhora, mais elegante e requintada, veio com esta iguaria para casa (para dentro de casa...).

Se alguns se queixam de falta de emoções fortes na quarentena, já eu queixo-me dos meus gatos andarem a testar a resistência do meu pobre coração. Ainda assim, consegui fotografar esta vítima (que era bem bonita, by the way), nesta altura, já mais para lá do que para cá.

Um dia que tenha uma objetiva de longo alcance (tipo 1km) talvez comece a pensar em fotografar também as presas do Félix, desde que me consiga barricar num bunker à prova de rato. Para já, fico-me pelas da Faísca.


sábado, 25 de abril de 2020

Professores em quarentena

Assim como todos os meus colegas professores, com o fecho das escolas, não vou trabalhar e estou, naturalmente, de férias.
Foi assim o meu dia:
Não precisei de pôr o despertador porque não tenho horário a cumprir. Acordei depois de quase 10 horas de um sono profundo e descansado. Para o pequeno almoço, fiz umas panquecas sem farinha nem açúcar para manter o corpo são e um sumo natural com laranjas acabadas de espremer ao que se seguiu uma hora de yoga para começar o dia em beleza.
Como não tenho nada para fazer, tenho aproveitado para aprender umas receitas diferentes e fui preparar o almoço: uma carne marinada em vinha d'alhos que deixei cozinhar em lume brando durante duas horas para apurar o tempero, e, para acompanhar, um puré de batata doce esmagada à mão e aromatizado com um apontamento de alecrim fresco, acabado de colher.
Deliciei-me com o repasto na companhia dos meus filhos e aproveitámos para pôr a conversa em dia. Tomei o café na varanda, ao sol, desta feita na companhia do quarto livro que estou a ler desde o início da quarentena. A leitura acabou numa pequena sesta que me deu energia para uma série de abdominais, agachamentos e uns minutos de prancha, pois há que manter a forma!
A certa altura, ouvi um barulho... 
Ohhh, era o despertador! Afinal, tudo não passou de um sonho! 
Eram 8h. Estava na hora de acordar, banho, vestir, pôr comida aos gatos e ligar o computador que demorou uma eternidade a iniciar, graças ao excesso de trabalho a que o tenho obrigado (desconfio que, não tarda, entra em greve). Abri os documentos e separadores que preparei para a aula síncrona, iniciei o zoom e comecei o meu dia de trabalho. Não tive tempo de tomar o pequeno almoço antes e, quando a primeira aula acabou, tive 10 minutos para engolir um iogurte e umas bolachas. Reproduzi a primeira aula uma segunda vez para um grupo diferente e as aulas da manhã estavam despachadas. Assustei-me ao abrir o e-mail com a quantidade de mensagens por ler... Afinal não ia lá desde as 22h do dia anterior, e já eram 11h30. Ainda assim, havia outras coisas para preparar que tinham prioridade, dando oportunidade a algum açambarcamento de mensagens não lidas na minha caixa de entrada. 
12h30: hora de ir fazer o almoço. Consegui cortar-me a picar uma cebola para o refogado, o que deu imenso jeito, uma vez que me imobilizou o polegar esquerdo. E, se, com duas mãos, já não sou propriamente uma fada do lar, com uma a minha parca habilidade para a cozinha ficou ainda mais reduzida. Mas pronto, apesar do polegar ter latejado valentemente enquanto encarnava o papel de chef maneta, o almoço fez-se e comeu-se... à pressa. O café já foi tomado em frente ao computador, na companhia dos alunos da primeira aula da tarde, um golinho de cada vez, quando havia uns segundos de espera sempre que tinham uma tarefa em mãos. Os últimos goles esperaram tanto pela sua vez que já se encontravam a uma temperatura bastante semelhante à do iogurte do pequeno almoço.
Duas aulas à tarde... Feito! Estava na altura de endireitar as costas, esticar as pernas por cinco minutos e atirar-me com unhas e dentes aos e-mails que tinha para ler... e para registar... e para responder.
E foi assim o meu dia. Agora está na hora de ir fazer o jantar com a minha mão esquerda a meio gás e a direita (que, para a cozinha, funciona como se fosse esquerda) essa sim, a todo o vapor (dentro do que é possível). Fogão: o meu segundo melhor amigo dos dias de hoje (o primeiro é o computador). 
Acho que vou aproveitar a hora do jantar para perguntar aos meus filhos se dormiram bem. Ao almoço não deu tempo. 


(Vá, não é bem 39, mas não se pergunta a idade a uma senhora...) 

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Tenho, desde que me conheço, uma enorme paixão pela Lua. Quando era miúda, achava que era especial e uma privilegiada porque Ela andava sempre atrás de mim. Quando viajava de carro, à noite, com os meus pais e irmãs, lá estava Ela. Acompanhava-me para onde quer que fosse como se estivesse a proteger-me da noite, linda e brilhante, para eu poder olhá-la e admirar a sua beleza. E na Lua Nova sentia saudades, mas sabia que em poucos dias Ela voltava. Nunca me desiludiu!

Agora sei que Ela brilha para todos e acho bem. Uma beleza assim deve ser acessível aos olhos do mundo inteiro. Mas continuo a sentir-me privilegiada por poder admirá-la da minha janela dando-me a oportunidade de conseguir fotografias como esta. 




domingo, 5 de abril de 2020

Adolescente-a-jogar-fortnite-ês

Estava no computador, a trabalhar e a ouvir o meu filho adolescente a jogar Fortnite com os amigos. Então decidi interromper o trabalho por um pouco para dar nota que, nesta quarentena, estou a aproveitar para me cultivar e aprender uma nova Língua, que se deve chamar qualquer coisa como adolescente-a-jogar-fortnite-ês. Antes de mais, aprendi que, neste jogo, todos se chamam “Zé”, ou “Mano”, ou “Puto”. Em momentos de desespero é “Puuuuuto” (com uma voz ligeiramente esganiçada). E, como sou uma boa aprendiz, já sei articular algumas frases deste novo dialeto. São elas:

- Mano, quando estás a fightar, não uses só a shotgun.
- Tens quantas kills?
- Zé! - eles são vários, mas na verdade também pode ser o Mano de há pouco - Estou a soro!
- Puto! Estou todo légado!!!
- Maaaaano, levei uma snaipada!
- Ahhhhh, estou a zero de viiiida!
E quando os companheiros de jogo adotam todos o mesmo nome,
- Putos, baza jogar squads?

Seja lá o que isso for... 

Entretanto, descobri que esta linguagem pode dar azo a más interpretações porque, a certa altura do jogo, ouvi-o comentar, com alguma desilusão na voz: 
- Mano, já sei porque é que eu morri... porque léguei!
Ora, fazendo o exercício de ler o comentário do rapaz em voz alta, facilmente se percebe a dúvida. Exato... foi isso mesmo que eu percebi. 

sábado, 4 de abril de 2020

O dia a dia dos dias de hoje

O despertador tocou e eu levantei-me para mais um dia de trabalho. Tomei banho e demorei algum tempo a escolher a melhor indumentária para me apresentar ao serviço porque estava indecisa entre as três leggings pretas que tenho e umas cinzentas. Escolhas feitas, calcei uns sapatos a condizer: as minhas pantufas cor de rosa para contrastar com os tons de cinzento eleitos para me aquecer acima do tornozelo. 

Demorei algum tempo a chegar ao trabalho porque os gatos não me largavam os pés a pedir comida. Tropecei neles duas vezes! Apesar do trânsito e de ter escapado ao sinistro por uma unha negra, consegui deixar os miúdos nas aulas, na mesa da sala, e fui para o trabalho, que não fica longe, na outra ponta da mesa. Cumprimentei colegas via whatsapp, li os e-mails pendentes (uns 150), respondi e recebi mais uns quantos, atribuí trabalho, recebi, corrigi, dei o devido feedback e a manhã estava feita.

Fui almoçar ao restaurante do costume e pedi mesa na esplanada, uma varanda com vista para a vizinha da frente. O pessoal do restaurante é muito simpático e conhecem-me há tanto tempo que me fazem sentir como em casa. Depois de analisar a ementa ao pormenor, escolhi o prato do dia (o único), que era esparguete à bolonhesa. Para sobremesa, doce da casa (já só há laranjas). Os outros clientes do restaurante, os meus filhos, eram simpáticos e criou-se um ambiente agradável. Depois de beber o café (isso ainda há, pouco), lavei a loiça para pagar a conta e regressei ao trabalho.

A tarde de trabalho não foi muito diferente da manhã. Mais uns 500 e-mails, leitura, resposta, organização, correção, feedback... e correu tudo bem.

Antes de ir para casa, ainda passei pelo ginásio que fica em frente à televisão para uma aula com o meu PT, o YouTube. Fiz bastante exercício, mas não me cansei o suficiente porque, antes do jantar, ainda me deu para ir fazer uma caminhada até ao caixote do lixo que fica do outro lado da rua. 

O jantar fui eu que fiz e não estava mau. É curioso, porque o tempero da cozinheira do restaurante onde fui almoçar é bastante semelhante ao meu. 

Enfim, no meio de toda esta atividade, acho que avariei o telemóvel porque o contador de passos registou pouco mais de 500.

terça-feira, 31 de março de 2020

Aos condutores da faixa do meio

Com certeza que, assim como eu, os meus amigos condutores que se deslocam em autoestrada com três faixas já repararam num flagelo chamado "condutores de faixa do meio".

É bastante antiga a fama que têm os molengas de estrada de andar a pisar ovos. Em situações extremas, já sem paciência, o meu avô dizia que eles estavam a separar a clara da gema, o que eu sempre achei um piadão, essencialmente porque sentido de humor não era uma das qualidades do meu avô.

Então, já repararam certamente que esses condutores super zen, por vezes, circulam calmamente na faixa da direita, cumprindo (e muito bem) o limite de velocidade em que se sentem confortáveis (ou seja, MEGA devagar!) e subitamente, assim que veem uma saída, se atiram para a faixa do meio, em pânico que a faixa da direita sucumba e os leve a um universo paralelo em chamas, governado por hienas gigantes e famintas, ou coisa que o valha.

Certo dia, um desses condutores, em plena A5, além de recear ser engolido pela faixa da direita, precaveu-se e, depois de se atirar com toda a pujança para a faixa do meio, logo em seguida, fez o mesmo para a da esquerda, onde eu estava, não fosse acontecer o mesmo à do meio, provocando, no meu pobre peito uma taquicardia que esteve a um danoninho de me levar à urgência do hospital mais próximo. E depois lá continuou, calma e alegremente, em velocidade tartaruga, em direção ao seu destino, na faixa da esquerda. E eu fiquei a hiper ventilar e a controlar o ataque de pânico que o moço (ou moça, não sei) me provocou.

Assim, envio por este meio uma carta aberta aos adeptos do pisamento de ovo nas estradas portuguesas. Afinal, as redes sociais são um ótimo meio para estes desabafos.

Então, aqui vai:

Caro amigo comparsa condutor que pratica ioga ao volante em plena autoestrada,

Vamos lá a ver, se a dita estrada está equipada com três faixas, há que utilizá-las à vontadinha, mas convenientemente. A faixa da direita é para circular a malta toda, que vive em estado permanente de calma (que eu muito admiro e invejo), a qualquer hora do dia ou da noite, dando oportunidade a toda a família de usufruir das belas paisagens portuguesas com todo o pormenor. Mas não receie, caro amigo. A faixa da direita não se evapora como álcool em dias de verão. Se o meu amigo estiver atento às setas que aparecem desenhadas no asfalto, as mesmas indicam quando há uma faixa que vai acabar, e tal não acontece assim, num estalar de dedos ou num piscar de olhos... a coisa dá-se com calma. E há tempo para mudar de faixa com toda a segurança. Muito tempo aliás, tendo em conta a velocidade a que o meu amigo se desloca. Assim sendo, atente às indicações que lhe são fornecidas no chão ou nas tabuletas que são tão úteis a todos e deixe-se estar na sua faixa sem se atirar para cima do resto do pessoal que não partilha dessa sua qualidade de circular com toda a calma do mundo.
Pode ser?

Pronto, já desabafei. A liberdade de expressão é fixe. Obrigada, Capitães de Abril!

sábado, 21 de março de 2020

Esta prima que se chama Vera

Veio tímida.
Fria, estranha, cinzenta e triste.
Chegou entre pingos de chuva e no meio de receios, angústias e incertezas, mas também na esperança de um futuro risonho.
Veio tímida, mas veio.
E deu-me uns minutos de Sol para eu conseguir esta fotografia.
Bem vinda, Primavera! 🌼


sexta-feira, 20 de março de 2020

Em época de isolamento, hoje fui fazer uma caminhada. Sem ajuntamentos, claro!

Peguei nos ténis com teias de aranha, no smartwatch que ressonava dentro da gaveta da mesa de cabeceira, acordei os músculos que se julgavam de férias nas Maldivas e lá fui eu.

Não foi uma longa caminhada, mas, neste momento, tenho o smartwatch a fumegar de cansaço e os músculos em protesto, a organizar uma manifestação reclamando excesso de trabalho.


quinta-feira, 19 de março de 2020

Posta n° 1 (de pescada, que o bacalhau está escasso)

Volta e meia, gosto de escrever umas coisas. Coisas que, na verdade, não interessam grande coisa a ninguém em especial, mas que eu escrevo porque me dá um gozo tremendo e porque escrever é viciante e faz bem à alma (à minha, pelo menos)... ainda que sejam apenas alguns disparates.

Então é para isso que inicio este blogue, para arquivar os meus devaneios escritos, para os recordar um dia e na esperança de que alguém com muito pouco juízo ache que vale a pena lê-los.

Em época de quarentena, há uns que arquivam papel higiénico e latas de atum e depois há os outros, que arquivam textos. Vá, do mal o menos. Antes textos!

Plano de fuga

Estou desconfiada de que os meus gatos estão fartos de companhia 24/24 e que andam a planear uma fuga de casa, começando pelo apuramento da...